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Mostrando postagens de fevereiro, 2016

[Cartas Famosas] Para Condessa Ewelina Hanska, de Honoré de Balzac

Pintura de Ferdinand Georg Waldmüller (1838) Pintura de Louis-Auguste Bisson  (1842) Honoré de Balzac foi disperso, prolífico, ambicioso, genial:  Honoré de Balzac (1799-1850) foi, como ele mesmo dizia, mais que um romancista, um cronista de costumes. Seu maior projeto literário, A comédia humana, tomou vinte e um anos de sua vida e foi interrompido apenas com sua morte, aos 51 anos. Na imensa obra, Balzac pretendeu fazer um verdadeiro inventário da França no século XIX: costumes, negócios, casamentos, ciências, modismos, política, profissões, tudo entrava nesse imenso painel, costurado com maestria narrativa e exibido aos poucos em folhetins. É dele esta carta que expomos na seção Cartas Famosas deste mês de fevereiro: ________________ “Junho de 1835 Meu Anjo Amado, Estou louco por você, tanto quanto se pode ser louco: eu não posso juntar duas ideias sem que você se interponha entre elas. Eu não posso mais pensar

Misto de memória e ficção, este livro convida-nos à uma viagem à África

O título do livro deve-se a uma máxima que existe na África. Enquanto uma coisa pode ser verdade ao amanhecer, outra pode ser mentira ao meio-dia.  É o próprio Hemingway que traz como epígrafe do livro a frase elucidativa: Na África uma coisa é verdade ao amanhecer e mentira pelo meio-dia e não devemos respeitá-la mais do que ao maravilhoso e perfeito lago bordejado de ervas que se vê além da planície salgada crestada pelo sol Atravessamos essa planície pela manhã e sabemos que tal lago não existe. Mas agora está lá e é absolutamente verdadeiro, belo e verosímil.  (HEMINGWAY, pág. 02) E é misturando este tom de memórias com um pouco de ficção que Hemingway vai tecendo a história de Verdade ao amanhecer  ( True at first light, Tradução de M ário Pontes, Bertrand Brasil, 2015, 462 páginas, R$ 31,90 -55,00 ). A edição anterior trazia como subtítulo "Memória Ficcional". O livro, narrado em primeira pessoa e ambientado na África, foi escrito no último safári na Á

Mais um romance de formação (com misticismo) que nos mostra como a vida é tempestade e calmaria

Demian foi mais um Romance de Formação (1) lido que enriqueceu minha visão de mundo.  Considerado pela crítica como uma das obras mais bem acabadas do escritor alemão Herman Hesse, o livro é um divisor de água na sua bibliografia. Publicado em 1919 arrancou elogios de grandes nomes da literatura como Thomas Mann (2). Dez anos depois, o escritor levaria o Nobel de Literatura pelo conjunto de sua obra. Convém antecipadamente antentar para a curiosa divisão do livro, onde os títulos fazem uma clara referência religiosa: Dois mundos, Caim, O ladrão, Beatrice, A ave sai do ovo, A luta de Jacó, Eva e, por fim, O princípio do fim, concluido com um Posfácio. E no decorre da história vamos descobrir que cada título vai referir-se a um fato ou alguma característica de algum personagem, com o sinal de Caim, por exemplo, que Emil Sinclair vai descobrir que o carrega. No começo do romance achamos que Emil Sinclair é o personagem que irá determinar a direção de sua história. Na

A Rainha da Neve, por Michael Cunningham

"A Rainha da Neve" é um bom drama leve, mas sem catarse.* _____________________ SINOPSE:   Barrett Meeks, que acabou de perder mais um amor, está à deriva. Ao atravessar o Central Park, ele se vê repentinamente inspirado a erguer os olhos para o céu, onde uma luz pálida e translúcida parece encará-lo de uma forma nitidamente divina. Ao mesmo tempo, seu irmão mais velho Tyler, músico viciado em drogas, tenta em vão escrever uma canção de amor para sua noiva, Beth, que está gravemente doente. Barrett, assombrado por aquela luz, inesperadamente recorre à religião. Tyler, por sua vez, se convence cada vez mais de que apenas as drogas serão capazes de dar vazão à sua verve criativa mais profunda. E enquanto Beth tenta encarar a morte com o máximo de coragem possível, sua amiga Liz, uma mulher mais velha — cínica, porém perversamente maternal —, lhe oferece ajuda. Guiados pela narrativa sublime de Michael Cunnningham, acompanhamos Barrett, Tyler, Beth e Liz à medida q

12 livros para ler em 2016

1. O Homem que corrompeu Hadleyburg - Mark Twain Hadleyburg é uma pequena cidade norte-americana conhecida pela honestidade de seus habitantes. Um forasteiro, sentindo-s e ofendido em sua passagem por lá, põe em ação um plano de vingança que pretende desfazer a alcunha de integridade não apenas dos que lhe ofenderam, mas da cidade inteira. Escrito em quartos de hotel logo após a morte da filha, enquanto o autor cumpria uma agenda de leituras na Europa e também fugia de credores de seu país, O HOMEM QUE CORROMPEU HADLEYBURG desenvolve com excelência fundamentos que definem uma sátira: a ironia fina, o humor, o sarcasmo fazendo parecer leve uma crítica severa às certezas de uma época, de seus hábitos, de suas pessoas. E como a literatura mais magistral, esta novela subverte qualquer tentativa de conclusões fáceis: Hadleyburg é arruinada ou libertada? O misterioso forasteiro é um vilão ou um herói? É este um livro de vingança, ou de redenção? Fica claro, porém, que se es

"Um Retrato do artista quando jovem" faz 100 anos. Confira Resenha.

Fechado e aberto, o livro maduro de James Joyce é um labirinto de intertextualidade ___________________________________________________ Levei quase um ano para ler o livro do Joyce. Isso porque eu havia iniciado algumas vezes e interrompia a leitura. Quando reiniciava, voltava pro início a fim de compreender a história. E essa luta para concluir o livro tornou-se uma determinação pessoal. Até que enfim conclui. Do autor irlandês eu já havia lido os contos que compõem a obra "Dublinenses". Mas ler "Um retrato do artista quando jovem" foi uma experiência bem complicada. Na verdade eu vou começar a resenha já indicando "Stephen Herói", o romance embrionário de "Retrato". Isso porque ele além de ter sido os primeiros rascunhos do romance Retrato, é nele que Joyce insere seu estilo inconfundível: o fluxo de consciência tão peculiar em suas obras. Porém, por problemas (fofocas literárias que não convém mencionar agora), o autor não pôd