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Mostrando postagens de setembro, 2013

Um conto kafkiano

O Passeio Repentino Quando à noite parece ter-se tomado a decisão definitiva de permanecer em casa, vestiu-se o roupão, depois do jantar ficou-se sentado à mesa iluminada, às voltas com aquele trabalho ou jogo ao término do qual habitualmente se vai dormir, quando lá fora há um tempo inamistoso que torna natural permanecer em casa, quando já se passou tanto tempo quieto à mesa que ir embora teria de provocar espanto geral, quando até as escadas já estão escuras e a porta do prédio fechada, e quando apesar disso tudo, num mal-estar repentino, fica-se em pé, troca-se o roupão, surge-se imediatamente vestido para ir à rua, se esclarece que é preciso sair, faz-se isso depois de breve despedida, acreditando-se ter deixado maior ou menor irritação conforme a rapidez com que se bate a porta do apartamento, quando se está de novo na rua com membros que respondem com uma mobilidade especial a essa liberdade inesperada que lhes foi concedida, quando se sente, através dessa decisão, conce

Muito além da História, Inverno do Mundo reconstrói os dias turbulentos de um período dramático

Muito além da História, Inverno do Mundo conta a história de famílias que num período bastante conturbado da história viveram aquilo que mais parece realidade. ______________________ Tão longa é a história e tão rápido devora-se as mais de 8 centenas de páginas de mais um volume da trilogia O Século, criada por Ken Follett. Depois do primeiro volume, Queda de Gigantes, o novo livro Inverno do Mundo (Ken Follett, Título Original Winter Of World, Tradução , Arqueiro, 2012, 880 páginas.) traz mais ainda o furor de ação, drama, intriga e história na sequência da trama magistralmente criada por Follett. O século XX segue aqui os seus acontecimentos históricos entremeados com a vida dos personagens. Neste segundo volume da trilogia acompanhamos ano a ano numa sucessão de mistérios regados a muita ação. Inverno do Mundo inicia 10 anos após os acontecimentos do livro anterior (Queda de Gigantes). Neste início do romance o autor dedica páginas e páginas sobre o período pré-guerra, leva

[The Proust Questionnaire] Por Thiago Felício

Não sei se você sabe, mas aquelas perguntas que são usadas pela maioria dos entrevistadores são inspiradas no "The Proust Questionnaire". O Questionário Proust é uma forma de entrevista muito conhecida pelos aficcionados em revistas de comportamento. A lista de 29 perguntas se tornaram famosas quando foram respondidas por Marcel Proust, um dos maiores escritores do século 19. Lá pelos idos de 1886, o então futuro escritor, na época com treze anos de idade, estava na festa da prima, Antoinette, e foi convidado a preencher um questionário, uma diversão de salão chamada “Confissões”, na qual os participantes respondiam a uma lista de questões pessoais. A brincadeira se tornou comum nos salões da Belle Époque, e uma forma de entreter os convidados. Por meio de perguntas como “qual a sua cor favorita“, “qual é o seu atual estado de espírito” e “seus heróis favoritos na vida real“, a brincadeira revela muito da personalidade do entrevistado. E você? Já tentou fazer este t

[Cartas Famosas] Para Leonard Woolf, De Virgínia Woolf

Virgínia Woolf, uma das escritoras britânicas mais influentes do século XX teve uma vida preenchida por dores e tormentos. No dia 28 de março de 1941, num clima de Guerra, Virgínia pôs um casaco, encheu seus bolsos de pedras e jogou-se nas águas do Rio Ouse, deixando-se afogar. Antes, porém, deixou para o seu marido uma carta. E aqui mostramos. Tradução:  “Meu Muito Querido: Tenho a certeza de que estou novamente enlouquecendo: sinto que não posso suportar outro desses terríveis períodos. E desta vez não me restabelecerei. Estou começando a ouvir vozes e não consigo me concentrar. Por isso vou fazer o que me parece ser o melhor. Deste-me a maior felicidade possível. Fostes em todos os sentidos tudo o que qualquer pessoa podia ser. Não creio que duas pessoas pudessem ter sido mais felizes até surgir esta terrível doença. Não consigo lutar mais contra ela, sei que estou destruindo a tua vida, que sem mim poderias trabalhar. E trabalharás, eu sei. Como vês, nem isto consigo escrever como

Proust por Escritores Brasileiros

Fomos atrás de escritores brasileiros para falar sobre o escritor Proust e sua obra, tema do nosso mais recente projeto literário de postagens especiais daqui do blog. O blog Papos Literários continuando o projeto "Proust em foco" contatou o premiado escritor brasileiro Menalton Braff para falar sobre a obra de Proust. O escritor já revelou que "Em busca do tempo perdido" é uma de suas obras preferidas. Quando perguntamos o porquê, ele não hesitou e respondeu sinteticamente em um parágrafo a essência da obra de Proust. "Marcel Proust, principalmente em sua obra “Em busca do tempo perdido”, promove um desvio na rota do romance do século XIX em vários sentidos. O ritmo de sua narrativa dando maior importância à construção da personagem do que ao enredo; a observação do entorno das personagens, com descrições magistrais e plásticas e cromáticas, como verdadeiras telas; o trabalho impressionista com a memória; seu sensorialismo; tudo isso abrindo as porta