Pular para o conteúdo principal

A Rainha da Neve, por Michael Cunningham


"A Rainha da Neve" é um bom drama leve, mas sem catarse.*
_____________________

SINOPSE: 
Barrett Meeks, que acabou de perder mais um amor, está à deriva. Ao atravessar o Central Park, ele se vê repentinamente inspirado a erguer os olhos para o céu, onde uma luz pálida e translúcida parece encará-lo de uma forma nitidamente divina. Ao mesmo tempo, seu irmão mais velho Tyler, músico viciado em drogas, tenta em vão escrever uma canção de amor para sua noiva, Beth, que está gravemente doente.
Barrett, assombrado por aquela luz, inesperadamente recorre à religião. Tyler, por sua vez, se convence cada vez mais de que apenas as drogas serão capazes de dar vazão à sua verve criativa mais profunda. E enquanto Beth tenta encarar a morte com o máximo de coragem possível, sua amiga Liz, uma mulher mais velha — cínica, porém perversamente maternal —, lhe oferece ajuda.
Guiados pela narrativa sublime de Michael Cunnningham, acompanhamos Barrett, Tyler, Beth e Liz à medida que trilham caminhos definitivamente distintos em sua busca coletiva pela transcendência. Numa prosa sutil e lúcida, o autor demonstra uma profunda empatia por seus conflituosos personagens, além de uma compreensão singular daquilo que reside no âmago da alma humana.
..............................

A Rainha da Neve (Snow Queen, Tradução de Regina Lyra, Bertrand Brasil, 2015, 252 páginas, R$ 10,20 a  35,00não conta exatamente uma história. Através de uma escrita caprichada e cheia de detalhes, Cunnningham se atém a emoções de seus pensamentos. Trata-se da tentativa de mostrar as relações humanas sem se ater aos porquês dos comportamentos e pensamentos. As pessoas são o que são e pronto.

Os personagens principais da obra são os irmãos Tyler e Barret Meeks. O primeiro, um músico sem sucesso, casado com Beth (que  durante boa parte do livro tem câncer e está apenas esperando a morte lhe visistar); e o segundo é alguém que possui tudo para ser brilhante mas que por motivo nenhum, não é.

A Rainha da neve nos traz um drama cheio de leveza, com um pouco de comédia e muitas reflexões. Aos poucos o leitor pode identificar seus próprios conhecidos nas personagens ou, quem sabe, um pouco de si mesmo. E percebemos, com um pouco de pesar, que temos muito disso no mundo: pessoas que ainda não se encontraram; pessoas que estão procurando seu lugar no mundo, e pessoas que nunca vão se encontrar.

Apesar da ótima escrita e de uma premissa que acho interessante, não daria nota dez para este livro. A narrativa é lenta e mantem o ritmo, sem reviravoltas ou momentos de catarse. 

A Rainha da Neve é uma boa pedida para quem gosta de obras sensíveis e reflexivas.

Curiosidades sobre o romance:
  • Michael Cunningham já escreveu sete romances, entre os quais As Horas, vencedor dos prêmios PEN/Faulkner, Pulitzer e Stonewall Book Award.
  • O livro "A Rainha da Neve" leva o título de um conto de fadas de Hans Christian Andersen.
  • A história do romance é um retrato impressionista de Brooklyn, por volta de 2004, o East Village, 4 anos depois e ainda as engrenagens da era de George W. Bush e a eleição de 2008.

* Resenha elaborada pela colaboradora Juliene Lopes.
_______________
Fonte:

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

[Curiosidades] Xingamentos em um português culto

Se é pra xingar, vamos xingar com um português sofisticado. Aqui neste post você vai ler algumas palavras mais cultas e pouco usadas quando se quer proferir uma série de palavrões onde a criatura não entende patavina nenhuma. Antes, porém, de você aprender algumas palavrinhas, conheça esta historieta: Diz a lenda que Rui Barbosa, ao chegar em casa, ouviu um barulho estranho vindo do seu quintal. Chegando lá, constatou haver um ladrão tentando levar seus patos de criação. Aproximou-se vagarosamente do indivíduo e, surpreendendo-o ao tentar pular o muro com seus amados patos, disse-lhe:  - Oh, bucéfalo anácrono!Não o interpelo pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes, mas sim pelo ato vil e sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação, levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa. Se fazes isso por necessidade, transijo; mas se é para zombares da minha elevada prosopopéia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica bem no alto da tua sinagoga, e o

Resistência do amor em tempos sombrios

Terceiro e último livro de uma trilogia que a escritora gaúcha iniciou com A casa das sete mulheres, o volume Travessia encerra a Trilogia Farroupilha com um personagem que, no dizer da autora, é comum a toda a história: Garibaldi, este carismático personagem que aparece no início do primeiro livro, quando principia um amor platônico com a meiga Manuela, a filha do Bento Gonçalves. Mas como já acompanhamos nos volumes anteriores, a família da moça não compactua com o romance, impedindo, pois, o contato de ambos. Se no primeiro livro a escritora se atém a contar a história da família concomitante à Revolução Farroupilha, tendo como cenário a Estância da Barra, a casa na qual ficaram 7 mulheres da família de Bento Gonçalves, no segundo volume já temos como plano histórico a Guerra do Paraguai, além de mudar a perspectiva para o romance de Giuseppe e Anita, a mulher atemporal que provoca uma paixão no general e guerreiro italiano. Ana Maria de Jesus Ribeiro, ou Anita, sempre dava um

De Clarice Lispector para Tania Kaufmann

Conforme eu tinha anunciado ha meses, o blog Papos Literários divulgará com frequência uma série de cartas famosas do mundo da literatura ou da música. Hoje trago na íntegra a carta de uma das escritoras mais queiridinhas dos brasileiros, além de ser famigerada nestes tempos de facebook ee twitter. Confira a f amosa carta de Clarice para a sua irmã Tania Kaufmann. Clarice em sua árdua tarefa de escrever _____________________________________________ A Tania Kaufmann Berna, 6 janeiro 1948 Minha florzinha, Recebi sua carta desse estranho Bucsky, datada de 30 de dezembro. Como fiquei contente, minha irmãzinha, com certas frases suas. Não diga porém: descobri que ainda há certas frases suas. Não diga porém: descobri que ainda há muita coisa viva em mim. Mas não, minha querida ! Você está toda viva! Somente você tem levado uma vida irracional, uma vida que não parece com você. Tania, não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar