Pular para o conteúdo principal

[cartas famosas] Para Jenny von Westphalen, de Karl Marx

Conhecido no mundo inteiro como autor de "O Capital", Karl Marx demonstra nesta carta, com bastante pungência, o seu afeto pela sua companheira. É uma carta tão singela que chegamos a imaginar aquele senhorzinho de barbas longas e brancas beijando sua esposa da cabeça aos pés.

_______________________
Manchester, 21 de Junho de 1865

Minha querida,
Escrevo-te outra vez porque me sinto sozinho e porque me perturba ter um diálogo contigo na minha cabeça, sem que tu possas saber nada, ou ouvir, ou responder…
A ausência temporária faz bem, porque a presença constante torna as coisas demasiado parecidas para que possam ser distinguidas. A proximidade diminui até as torres, enquanto as ninharias e os lugares comuns, ao perto, se tornam grandes. Os pequenos hábitos, que podem irritar fisicamente e assumir uma forma emocional, desaparecem quando o objecto imediato é removido do campo de visão. As grandes paixões, que pela proximidade assumem a forma da rotina mesquinha, voltam à sua natural dimensão através da magia da distância. É assim com o meu amor. Basta que te roubem de mim num mero sonho para que eu saiba imediatamente que o tempo apenas serviu, como o sol e a chuva servem para as plantas, para crescer.
No momento em que tu desapareces, o meu amor mostra-se como aquilo que na verdade é: um gigante onde se concentra toda a energia do meu espírito e o carácter do meu coração. Faz-me sentir de novo um homem, porque sinto um grande amor. (…) Não o amor do homem Feuerhach, não o amor do metabolismo, não o amor pelo proletariado – mas o amor pelos que nos são queridos e especialmente por ti, faz um homem sentir-se de novo um homem.
Há muitas mulheres no mundo e algumas delas são belas. Mas onde é que eu podia encontrar um rosto em que cada traço, mesmo cada ruga, é uma lembrança das melhores e mais doces memórias da minha vida? Até as dores infinitas, as perdas irreparáveis… eu leio-as na tua doce fisionomia e a dor desaparece num beijo quando beijo a tua cara doce.
Adeus, minha querida, beijo-te mil vezes da cabeça aos pés,
Sempre teu,
Karl
___________________________________

Uma pequena Biografia de Karl Marx

Nascido em 05 de maio de 1818, Teórico do socialismo, Karl Marx estudou direito nas universidades de Bonn e Berlim (Alemanha), mas sempre demonstrou mais interesse pela história e pela filosofia. Quando tinha 24 anos, começou a trabalhar como jornalista em Colônia, assinando artigos social-democratas que provocaram uma grande irritação nas autoridades do país. Após o casamento com uma amiga de infância (Jenny von Westphalen), foi morar em Paris, onde lançou os "Anais Franco-Alemães", órgão principal dos hegelianos de esquerda. Foi em Paris que Marx conheceu Friedrich Engels, com o qual manteve amizade por toda a vida.
Depois de Paris, Marx morou em Bruxelas. Na capital da Bélgica, o economista intensificou os contatos com operários e participou de organizações clandestinas. Em 1848, Marx e Engels publicaram o "Manifesto do Partido Comunista", o primeiro esboço da teoria revolucionária que, anos mais tarde, seria denominada marxista.
Expulso da Alemanha, foi morar refugiado em Londres, onde viveu na miséria. Foi na capital inglesa que Karl Marx intensificou os seus estudos de economia e de história e passou a escrever artigos para jornais dos Estados Unidos sobre política exterior.
Em 1864, foi co-fundador da "Associação Internacional dos Operários", que mais tarde receberia o nome de 1ª Internacional. Três anos mais tarde, publica o primeiro volume de sua obra-prima, "O Capital".
Desiludido com as mortes de sua mulher (1881) e de sua filha Jenny (1883), Karl Marx morreu no dia 14 de março de 1883. Foi então que Engels reuniu toda a documentação deixada por Marx para atualizar "O Capital".
Embora praticamente ignorado pelos estudiosos acadêmicos de sua época, Karl Marx é um dos pensadores que mais influenciaram a história da humanidade. O conjunto de suas idéias sociais, econômicas e políticas transformou as nações e criou blocos hegemônicos. Morreu em 14 de março de 1883, em Londres, Inglaterra.


________________________________________________________________
Fonte: Contioutra / Wikipedia / Uol Educação

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

[Curiosidades] Xingamentos em um português culto

Se é pra xingar, vamos xingar com um português sofisticado. Aqui neste post você vai ler algumas palavras mais cultas e pouco usadas quando se quer proferir uma série de palavrões onde a criatura não entende patavina nenhuma. Antes, porém, de você aprender algumas palavrinhas, conheça esta historieta: Diz a lenda que Rui Barbosa, ao chegar em casa, ouviu um barulho estranho vindo do seu quintal. Chegando lá, constatou haver um ladrão tentando levar seus patos de criação. Aproximou-se vagarosamente do indivíduo e, surpreendendo-o ao tentar pular o muro com seus amados patos, disse-lhe:  - Oh, bucéfalo anácrono!Não o interpelo pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes, mas sim pelo ato vil e sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação, levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa. Se fazes isso por necessidade, transijo; mas se é para zombares da minha elevada prosopopéia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica bem no alto da tua sinagoga, e o

Resistência do amor em tempos sombrios

Terceiro e último livro de uma trilogia que a escritora gaúcha iniciou com A casa das sete mulheres, o volume Travessia encerra a Trilogia Farroupilha com um personagem que, no dizer da autora, é comum a toda a história: Garibaldi, este carismático personagem que aparece no início do primeiro livro, quando principia um amor platônico com a meiga Manuela, a filha do Bento Gonçalves. Mas como já acompanhamos nos volumes anteriores, a família da moça não compactua com o romance, impedindo, pois, o contato de ambos. Se no primeiro livro a escritora se atém a contar a história da família concomitante à Revolução Farroupilha, tendo como cenário a Estância da Barra, a casa na qual ficaram 7 mulheres da família de Bento Gonçalves, no segundo volume já temos como plano histórico a Guerra do Paraguai, além de mudar a perspectiva para o romance de Giuseppe e Anita, a mulher atemporal que provoca uma paixão no general e guerreiro italiano. Ana Maria de Jesus Ribeiro, ou Anita, sempre dava um

De Clarice Lispector para Tania Kaufmann

Conforme eu tinha anunciado ha meses, o blog Papos Literários divulgará com frequência uma série de cartas famosas do mundo da literatura ou da música. Hoje trago na íntegra a carta de uma das escritoras mais queiridinhas dos brasileiros, além de ser famigerada nestes tempos de facebook ee twitter. Confira a f amosa carta de Clarice para a sua irmã Tania Kaufmann. Clarice em sua árdua tarefa de escrever _____________________________________________ A Tania Kaufmann Berna, 6 janeiro 1948 Minha florzinha, Recebi sua carta desse estranho Bucsky, datada de 30 de dezembro. Como fiquei contente, minha irmãzinha, com certas frases suas. Não diga porém: descobri que ainda há certas frases suas. Não diga porém: descobri que ainda há muita coisa viva em mim. Mas não, minha querida ! Você está toda viva! Somente você tem levado uma vida irracional, uma vida que não parece com você. Tania, não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar