Resenhado pelo colaborador Osvaldo Rodrigues*
Narrativa entremeada por reflexões e histórias paternas fazem deste livro um ensaio sem tecnicidade muito prazeroso.
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Francisco Bosco em "Orfeu de Biclicleta - Um pai no século XXI", fala sobre sua experiência como pai de dois filhos pequenos, de suas indecisões, contradições e seus espantos ao exercer as funções paternas no mundo atual. Na primeira parte do livro, "Gêneros em desconstruções", ele faz um pequeno comentário sobre a modificação que ocorreu no papel social das crianças da Idade Media aos tempos de hoje, elas (meninos e meninas) são tratadas como centro da sociedade e do núcleo familiar. "Essa valorização e sentimentalizaçãoda infância é um fenômeno moderno, que, segundo historiadores , foi se consolidando a partir do século XVII na Europa e apartir do XIX nos EUA e no Brasil." explicou Bosco. No livro o autor cita vários historiadores, filósofos que falam como eram tratadas as crianças na Idade Media e como são tratadas hoje.
Francisco Bosco também aproveita a narrativa para narrar suas experiências paternas, das modificações que aconteceram após a chegada de seus filhos, e falou sobre algo que me chamou certa atenção, logo no começo da segunda parte, onde ele fala de "filhos e crianças". Assim como muitos, não sou muito chegado a crianças, acho elas fofas e ao mesmo tempo aterrorizantes, e Bosco comenta sobre isso:
“Um dia, um amigo me disse não querer ter filhos por que não gosta de crianças. Repliquei que o argumento é ilógico. Crianças são os filhos dos outros. já os nossos filhos geram em nos esse dispositivo narcísico que nos faz necessariamente gostar deles, pois necessariamente gostamos de nos (mesmo as pessoas com baixa autoestima: afinal elas também tem autoestima)." Como meu amigo, não sou lá muito fa de crianças. gosto por ordem decrescente de envolvimento narcísico, dos meus filhos, depois dos filhos dos meus amigos, em seguida, das crianças que são amigas de meus filhos. Desconfio que são poucas pessoas no mundo as que gostam de crianças. Crianças choram no avião, cospem a comida, dizem bobagens inconvenientes. Nosso filhos (não) são diferentes”
Explicou Bosco
Bom, ao longo da leitura,Bosco fala sobre outros assuntos envolvendo o desenvolvimento das crianças em geral (claro, mencionando os filhos dele). Um que chama atenção é da construção do eu.
“O processo de construção do eu é fundado na imitação, na linguagem. O bebê copia e se identifica com os pais ou com seus cuidadores. A matriz de identificação da criança são os pais e ela depende deles para a construção psíquica. Os pais encontram um ‘eu’ que justifica sua existência e, por isso, eu acho que os filhos pequenos são hoje a maior experiência emocional que uma pessoa pode ter. Isso é narcísico e existe um investimento emocional no primeiro filho diferente do que em qualquer outro. À medida que as crianças crescem, outros ‘eus’ vão virando referência para elas e os pais deixam de ser o único espelho.”, disse.
Bosco menciona também o modulo cultural francês, que segundo ele, considera as crianças francesas como parte de uma sociedade e não o centro dela. Diferente daqui do Brasil.
Enfim, um dos livros que eu li e gostei de cara, pelo fato da escrita ser acessível, simples e ágil , (apenas as notas que deixaram a desejar apenas pelo fato de serem postas no final do livro ao invés de serem adicionadas no final da página). Outro aspecto interesssante é que o autor traz para a obra estudos como da psicanalista Maria Rita Kehl, historiadores etc. Um ótimo livro, recomendado para pais, filhos, educadores, psicólogos e aos que se aprazem com o tema paterno.
Abaixo, deixamos o vídeo do excelente programa "Sempre um papo", onde o escritor comente e discute acerca da sua obra.
Francisco Bosco é letrista e escritor, autor dos livros Alta Ajuda, Banalogias, Dorival Caymmi e Da Amizade. Filho do cantor e compositor João Bosco, é doutor em teorialiterária pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e jornalista, com atuação no jornal O Globo, onde mantém uma coluna em que fala sobre cultura, política e temas da atualidade, e também escreveu para as revistas Trip e Cult.
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