A edição de clássicos da literatura mundial sempre é um bom negócio para o mercado editorial e uma oportunidade para o leitor: na maioria das vezes, para tornar atraente o que já foi publicado mil vezes, as editoras apostam em volumes bem cuidados, ilustrados, acrescidos de ensaios inéditos sobre os autores e com traduções novas. O mercado brasileiro teve um primeiro semestre produtivo nesse quesito. Quatro editoras apostam em reedições que trazem às prateleiras nomes e títulos inevitáveis da literatura mundial.
ENTREVISTA/ Mônica Figueiredo*
Por que é importante ler e reler os clássicos?
Porque é preciso resguardar a memória. Vivemos hoje uma realidade que tem a duração de segundos, se é que esta medida temporal já não é extensa demais para dar conta da “descartabilidade” - perdoem o neologismo -, que rege a experiência de vida na contemporaneidade. Sem memória, sem história. Estas ausências são temerosas porque constróem sociedades que vivem assombradas por um “futuro” que afinal nunca chega; por um “presente” que é vivido sem reflexão crítica; e por uma rejeição impressionante a tudo que pode ser chamado de “passado”, visto sempre como coisa que pode ser jogada fora, porque não tem valor, pois “já passou”.
Por que isso?
Vivemos assombrados pela necessidade de novidade, pelo desejo de originalidade, pela ilusão de sermos seres únicos. No entanto, qual a dor humana que não foi detectada por Cervantes quando, no final do século 16, escrevia o seu D. Quixote? Os clássicos nos “historicizam”, eles nos transformam em seres habitantes de um mesmo planeta chamado humanidade. Afinal, o emparedamento social e a solidão de uma Madame Bovary ainda é vivido pelos burgueses que hoje procuram resolver suas dores existenciais com antidepressivos, na tentativa de evitarem o arsênico usado pela personagem suicida de Gustave Flaubert, no século 19.
Qual o valor das reedições?
Prestar um serviço inestimável à memória cultural das sociedades, mas, pensando num caso em particular, dou um exemplo. Tenho uma afilhada adolescente que, para meu orgulho, é uma leitora compulsiva, coisa rara hoje em dia. Não faz muito tempo, pensei que já era hora de ela começar a ler os clássicos e tentei recuperar os livros que me tinham seduzido quando eu era uma leitora de 15 anos. Na hora, lembrei-me de O conde de Monte Cristo, que li de maneira desesperada ainda criança e parti para uma livraria em busca do livro que seria um presente à inteligência de minha afilhada. Havia neste gesto um prazer egoísta, queria que ela (re)vivesse por mim o prazer de uma leitura que me tirou o sono, povoando meu imaginário de forma definitiva. Diante da reedição caprichada que me caiu nas mãos - refiro-me a feita pela Zahar - não tive dúvidas de que minha afilhada já era de saída uma leitora seduzida. Assim, editar livros considerados “velhos” como se fossem “novos” - capas sedutoras, comentários e notas explicativas, ilustrações sempre que possível - é mais do que um sinal de respeito à cultura, é a prova irrefutável de que a inteligência humana pode e deve ser incentivada. Luiza, hoje, gosta tanto de O conde de Monte Cristo quanto eu!
Clássicos da literatura não envelhecem, carregam um frescor capaz de atravessar séculos e jamais ficam datados. Além de atemporais, são também portadores de informações importantes: contextos sociais e políticos que se reproduzem eternamente na história do homem, maestria da linguagem capaz de deleitar o leitor até hoje e o fato de serem os pilares da literatura, sobre os quais se constrói o presente. Se você ainda não se convenceu de que os clássicos merecem sua atenção, então lembre-se que, segundo os críticos e editores, apenas cerca de 10% da produção literária contemporânea ainda estará nas mãos dos leitores daqui a cem anos. Ou seja, se você tem em mãos um clássico, tem em mãos um sobrevivente, um herói da literatura.
ENTREVISTA/ Mônica Figueiredo*
Por que é importante ler e reler os clássicos?
Porque é preciso resguardar a memória. Vivemos hoje uma realidade que tem a duração de segundos, se é que esta medida temporal já não é extensa demais para dar conta da “descartabilidade” - perdoem o neologismo -, que rege a experiência de vida na contemporaneidade. Sem memória, sem história. Estas ausências são temerosas porque constróem sociedades que vivem assombradas por um “futuro” que afinal nunca chega; por um “presente” que é vivido sem reflexão crítica; e por uma rejeição impressionante a tudo que pode ser chamado de “passado”, visto sempre como coisa que pode ser jogada fora, porque não tem valor, pois “já passou”.
Por que isso?
Vivemos assombrados pela necessidade de novidade, pelo desejo de originalidade, pela ilusão de sermos seres únicos. No entanto, qual a dor humana que não foi detectada por Cervantes quando, no final do século 16, escrevia o seu D. Quixote? Os clássicos nos “historicizam”, eles nos transformam em seres habitantes de um mesmo planeta chamado humanidade. Afinal, o emparedamento social e a solidão de uma Madame Bovary ainda é vivido pelos burgueses que hoje procuram resolver suas dores existenciais com antidepressivos, na tentativa de evitarem o arsênico usado pela personagem suicida de Gustave Flaubert, no século 19.
Qual o valor das reedições?
Prestar um serviço inestimável à memória cultural das sociedades, mas, pensando num caso em particular, dou um exemplo. Tenho uma afilhada adolescente que, para meu orgulho, é uma leitora compulsiva, coisa rara hoje em dia. Não faz muito tempo, pensei que já era hora de ela começar a ler os clássicos e tentei recuperar os livros que me tinham seduzido quando eu era uma leitora de 15 anos. Na hora, lembrei-me de O conde de Monte Cristo, que li de maneira desesperada ainda criança e parti para uma livraria em busca do livro que seria um presente à inteligência de minha afilhada. Havia neste gesto um prazer egoísta, queria que ela (re)vivesse por mim o prazer de uma leitura que me tirou o sono, povoando meu imaginário de forma definitiva. Diante da reedição caprichada que me caiu nas mãos - refiro-me a feita pela Zahar - não tive dúvidas de que minha afilhada já era de saída uma leitora seduzida. Assim, editar livros considerados “velhos” como se fossem “novos” - capas sedutoras, comentários e notas explicativas, ilustrações sempre que possível - é mais do que um sinal de respeito à cultura, é a prova irrefutável de que a inteligência humana pode e deve ser incentivada. Luiza, hoje, gosta tanto de O conde de Monte Cristo quanto eu!
*Professora de literatura portuguesa na UFRJ.
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Fonte: Diário de Pernambuco / Twitter da Editora Grua
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Fonte: Diário de Pernambuco / Twitter da Editora Grua
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