Pular para o conteúdo principal

A livraria 24hrs do Mr. Penumbra é um livro metalinguístico

Foto: Divulgação Novo Conceito
Um livro metalinguístico, visto que é sobre livros que o livro fala. Livros movem a história que gira em torno de um jovem e de um afável senhor.

_______________________

O livro A livraria 24 horas do Mr. Penumbra (Robin Sloan, Tradução de Elis Beletti Dobes Bacarji, Editora Novo Conceiro, 2013, 288 páginas), é para aqueles que gostam de livros uma publicação que começa enchendo os olhos do leitor a partir da capa, o cartão postal da narrativa.

Nesta história estreante do escritor americano Robin Sloan, que gira em torno do web designer Clay Jannon, desesperado à procura de um emprego, há uma série de aventuras que envolvem códigos secretos, tecnologia e claro, o mundo da bibliofilia. Poderia ser mais um livro contando história de livros. Mas o escritor consegue reunir da escrita antiga ao mundo da tecnologia e da imprensa de Gutemberg aos hackers.



O próprio web designer Clay Jannon, é o narrador do livro, que em primeira pessoa dá mais vivacidade à história, construída no contexto da crise econômica da Califórnia, mas com acontecimentos marcados pelo tempo presente.
No início do livro Clay está desempregado e com a perda do seu emprego ele começa desesperadamente procurar um novo trabalho. Na ânsia de aceitar qualquer emprego e sem muitas alternativas, ele acaba aceitando ser contratado para trabalhar numa livraria aberta 24 horas, do Mr. Penumbra. O seu turno de trabalho: a noite, horário mais propício para o mistério, para os segredos, terror e suspense, conforme apontam críticos como Antonio Cândido (1985). E para confirmar isso, é no turno da noite que acontece as melhores ações do livro.
No novo trabalho, ele logo vai fazendo amizades com pessoas que ele vai conhecendo no cotidiano da livraria. Inclusive é Kat Pontente, funcionária do Google, que vai desempenhar um papel importante junto com o protagonista dessa aventura.
Na livraria, as coisas são aparentemente calmas, mas só aparentemente, pois o mercado de livros é escasso e os clientes, poucos, mas fiéis. Estes, pertencem a um clube misterioso onde há a troca instantânea dos livros que estão lendo. Cada um destes membros possui um carteirinha, onde consta a sua identificação.
Quando Clay chega à Livraria do Mr. Penumbra ele recebe uma regra: NÃO olhar o conteúdo dos livros da sessão história que fica no fundo da loja. Pois são estes livros que os membros do clube estão lendo e trocando informações entre si.
Pois bem, curiosidade humana dura pouco tempo, né? Como já é previsível pelos leitores, o jovem Clay, auxiliado por seu amigo, que não consegue contar a própria curiosidade humana incita-o a olhar o conteúdo misterioso dos livros classificados por ele como 'pré-históricos'. E OOOOOH! Quão grande é a surpresa de Clay, (e dos leitores) quando ele encontra códigos misteriosos que envolvem uma sociedade secreta e milenar.
Com apenas seu laptop e seu kindle, cuja bateria não resiste mais do que 30 minutos, e a ajuda do seu amigo de infância, apaixonado por jogos de RPG, ele vai desvendar uma série de códigos secretos que o leva a pesquisar mais sobre aqueles misteriosos membros, sobretudo no mundo secreto do carismático Mr. Penumbra.
Mr. Penumbra, um senhor de idade, com seus hábitos misteriosos logo chama a atenção do protagonista e do leitor. Os poucos clientes assíduos da livraria, que sempre vão aos cantos da livraria ler livros em códigos despertam ainda mais a nossa curiosidade, instigada pela narrativa em primeira pessoa do Clay Jannon. Graças a ele, adentramos naquela livraria tão noturna e tão misteriosa. Ao entrarmos, logo somos interiorizados naquela história que mistura coisas antigas com tecnologia. Constantemente nos deparamos com acontecimentos que unem ferramentas googleanas, hackers, Facebook, Apple, Amazon e tantos outros, aproximando-nos da história e dando-nos a sensação de um mundo real.
Semelhante à Robert Langdon, famoso simbologista criado por Dan Brown, o escritor deste romance, Robin Sloan, consegue unir livros, sociedade secreta, misteriosas histórias com uma tecnologia bem palpável aos nossos olhos, porém não chega a ser uma aventura do nível do criptólogo de Dan Brown.
Com um enredo fantasioso, mas cativante, o livro consegue prender a nossa atenção, fluindo como se tivéssemos acompanhando os passos e os papos das personagens. A história lembra jogos do RPG, tanto é que há comparações nítidas no decorrer da história.
Cabe no enredo questionamentos sobre o futuro dos livros impressos e sobre e-book que, de certa forma, são enfatizados na narrativa, pois ora algum personagem faz uso de leituras digitais, ora, uns usam livros impressos.

Enfim, é uma leitura monida de mistérios. Se há uma coisa que incomoda é a constante citação ao Google e suas pesquisas. Fora isso, tudo leva o leitor à diversão. Um livro metalinguístico, visto que é sobre livros que o livro fala. E sobre livro, nós, viciados, entendemos muito bem.
A Editora responsável aqui no Brasil pela publicação, Novo Conceito conseguiu fazer um capa bem brasileira e bem diferente da americana, pois o foco da capa é a livraria.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

[Curiosidades] Xingamentos em um português culto

Se é pra xingar, vamos xingar com um português sofisticado. Aqui neste post você vai ler algumas palavras mais cultas e pouco usadas quando se quer proferir uma série de palavrões onde a criatura não entende patavina nenhuma. Antes, porém, de você aprender algumas palavrinhas, conheça esta historieta: Diz a lenda que Rui Barbosa, ao chegar em casa, ouviu um barulho estranho vindo do seu quintal. Chegando lá, constatou haver um ladrão tentando levar seus patos de criação. Aproximou-se vagarosamente do indivíduo e, surpreendendo-o ao tentar pular o muro com seus amados patos, disse-lhe:  - Oh, bucéfalo anácrono!Não o interpelo pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes, mas sim pelo ato vil e sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação, levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa. Se fazes isso por necessidade, transijo; mas se é para zombares da minha elevada prosopopéia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica bem no alto da tua sinagoga,...

Como fazer um livro artesanal em casa

Se você já teve aquela ideia de transformar um caderno de receitas em livro, ou ainda um diário, um bloco de anotações, siga estas instruções e veja como dar uma capa hardcover totalmente customizada a seu gosto. Abaixo, o tutorial passo a passo de como fazer uma maravilhoso livro artesanal. Método 1 de 2: Encadernação com Cola e Tecido 1  Escolha um material para a capa e corte duas peças idênticas. Para o seu primeiro livro, a cartolina é bem fácil de trabalhar. Uma vez que você já tenha pegado o jeito, poderá avançar para a madeira ou um tabuleiro. A capa precisa ser 6 cm mais larga e 1.25 cm mais longa que as páginas internas. Se você está usando papel de impressão, ele deve ter 22.25 x 29.25 cm. 2 Dobre seis folhas de papel pela metade. Depois, costure-as juntas no vinco, em um padrão de algarismo 8. Certifique-se de começar e terminar no mesmo ponto, e que o nó fique para dentro. Isto irá criar uma lombada de livro. 1/4" (.6 cm) é uma largura adequada. 3 Empilhe al...

[cartas famosas] Para Jenny von Westphalen, de Karl Marx

Conhecido no mundo inteiro como autor de "O Capital", Karl Marx demonstra nesta carta, com bastante pungência, o seu afeto pela sua companheira. É uma carta tão singela que chegamos a imaginar aquele senhorzinho de barbas longas e brancas beijando sua esposa da cabeça aos pés. _______________________ Manchester, 21 de Junho de 1865 Minha querida, Escrevo-te outra vez porque me sinto sozinho e porque me perturba ter um diálogo contigo na minha cabeça, sem que tu possas saber nada, ou ouvir, ou responder… A ausência temporária faz bem, porque a presença constante torna as coisas demasiado parecidas para que possam ser distinguidas. A proximidade diminui até as torres, enquanto as ninharias e os lugares comuns, ao perto, se tornam grandes. Os pequenos hábitos, que podem irritar fisicamente e assumir uma forma emocional, desaparecem quando o objecto imediato é removido do campo de visão. As grandes paixões, que pela proximidade assumem a forma da rotina mesqui...