Pular para o conteúdo principal

Uma pousada com o objetivo além de hospedar


Talvez o fato de Jo Marie Rose estar tentando superar um trauma já seja suficiente para fazer do best seller
A Pousada de Rose Harbor (Debbie Macomber, Março de 2013, 352páginas, R$ 29,90) um sucesso capaz de nos infringir dor e tristeza pelo sofrimento dos personagens. Talvez também o fato da própria pousada ser uma forma de superação faça o leitor o primeiro a sentir-se convidado a hospedar-se nos quartos convidativos de Rose. O certo é que a proposta da autora, a americana Debbie Macomber, de elaborar uma trilogia encima dessa ideia da pousada parece ser um projeto um tanto perigoso. Não é nem tanto pela ideia, mas pela dificuldade em tecer história encima dela. Tudo bem que tem horas que dá vontade de estarmos dentro da pousada, mas esse desejo passa. Vamos à história.


Após a morte do marido e depois de um estado quase permanente de luto, Jo Marie Rose decide sair do trauma e comprar uma pousada para retomar sua vida e tentar mudá-la. Mesmo não tendo conhecimento no assunto de hotelaria, só gostando de hóspedes, ela decide gerenciar o negócio. Os dois primeiros hóspedes são pessoas parecidas com a dona da pousada: Josh e Abby.
Josh é um problemático. Solitário e amargurado com as circunstâncias, ele foi desprezado pelo padrasto quando criança e retorna à Cedar Cove (a cidade onde está a pousada) para acompanhar os últimos dias de Richard, o padrasto mau, e ainda reaver alguns objetos que lhe trazem lembranças da mãe.
Se Josh é problemático, Abby é dramática, muito dramática. Assim como Johs, ela também retornou à Cedar Cove, só que para o casamento do irmão. Para ela, é difícil voltar à cidade anos depois de ter cometido um acidente que provocou a morte de sua amiga Angela. Após culpar-se, ela se retira da cidade e só agora retorna.


É a partir dessas duas premissas de histórias que a trama do romance se desenrola. 
Josh não é um personagem circular, muito menos fechado. É um personagem tão mau construído assim como outros paralelos que surgem na trama. Já que a escritora, para agradar a alguns fãs de sua série anterior de nome Cedar Cove, resolve incluir nesta nova série alguns personagens de suas histórias anteriores. Chega a ser, às vezes, um saco presenciar a entrada de personagens que não acrescentam nada à história. Mas isto já havia sido sinalizado pela escritora bem no início do livro, então nada de muitas reclamações. Cedar Cove é o próprio personagem em si, com suas personagens carregadas de dramas tão pessoais.  Debbie Macomber faz da cidade uma idealização de vida, de tão perfeita que parece ser. O fato de pessoas carregadas de problemas hospedarem-se na Pousada faz dela um lugar de reabilitação onde cada um sai de lá melhor e menos "carregado" de problemas, curado de suas feridas.

Em resumo, o livro não chega a encantar o leitor, talvez agrade aos que já acompanham a autora desde a série Cedar Cove. Por tratar-se de uma série, o próximo livro deve vir recheado de mais histórias e mais hóspedes dramáticos. Aguentemos.

Comentários

  1. Nunca li nenhum livro da autora, mas geralmente estes dramas aglutinados em um núcleo pequeno e limitado não são bem minha primeira escolha ao comprar um livro. Concordo que é bastante difícil construir uma estória sólida em meio a um emaranhado de dramas e personagens. Um exemplo são essas novelas da Rede Globo que volta e meia colocam um "núcleo da pensão" ou "núcleo da pousada" em suas novelas - e a maioria das situações são repetitivas e sem muita expressividade. Gostei bastante de sua resenha :)

    Abraço!
    Clara
    labsandtags.blogspot.com

    ResponderExcluir
  2. Eu também nunca li nenhum livro da autora, mas me interessei bastante pela sua resenha... vai entrar para a minha lista de desejos... hahaha

    Blog Diário de Garotas
    Um abraço!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Oi. Grato pela visita. Sinta-se convidado a voltar sempre. Abraços.

Postagens mais visitadas deste blog

[Curiosidades] Xingamentos em um português culto

Se é pra xingar, vamos xingar com um português sofisticado. Aqui neste post você vai ler algumas palavras mais cultas e pouco usadas quando se quer proferir uma série de palavrões onde a criatura não entende patavina nenhuma. Antes, porém, de você aprender algumas palavrinhas, conheça esta historieta: Diz a lenda que Rui Barbosa, ao chegar em casa, ouviu um barulho estranho vindo do seu quintal. Chegando lá, constatou haver um ladrão tentando levar seus patos de criação. Aproximou-se vagarosamente do indivíduo e, surpreendendo-o ao tentar pular o muro com seus amados patos, disse-lhe:  - Oh, bucéfalo anácrono!Não o interpelo pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes, mas sim pelo ato vil e sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação, levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa. Se fazes isso por necessidade, transijo; mas se é para zombares da minha elevada prosopopéia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica bem no alto da tua sinagoga, e o

Resistência do amor em tempos sombrios

Terceiro e último livro de uma trilogia que a escritora gaúcha iniciou com A casa das sete mulheres, o volume Travessia encerra a Trilogia Farroupilha com um personagem que, no dizer da autora, é comum a toda a história: Garibaldi, este carismático personagem que aparece no início do primeiro livro, quando principia um amor platônico com a meiga Manuela, a filha do Bento Gonçalves. Mas como já acompanhamos nos volumes anteriores, a família da moça não compactua com o romance, impedindo, pois, o contato de ambos. Se no primeiro livro a escritora se atém a contar a história da família concomitante à Revolução Farroupilha, tendo como cenário a Estância da Barra, a casa na qual ficaram 7 mulheres da família de Bento Gonçalves, no segundo volume já temos como plano histórico a Guerra do Paraguai, além de mudar a perspectiva para o romance de Giuseppe e Anita, a mulher atemporal que provoca uma paixão no general e guerreiro italiano. Ana Maria de Jesus Ribeiro, ou Anita, sempre dava um

De Clarice Lispector para Tania Kaufmann

Conforme eu tinha anunciado ha meses, o blog Papos Literários divulgará com frequência uma série de cartas famosas do mundo da literatura ou da música. Hoje trago na íntegra a carta de uma das escritoras mais queiridinhas dos brasileiros, além de ser famigerada nestes tempos de facebook ee twitter. Confira a f amosa carta de Clarice para a sua irmã Tania Kaufmann. Clarice em sua árdua tarefa de escrever _____________________________________________ A Tania Kaufmann Berna, 6 janeiro 1948 Minha florzinha, Recebi sua carta desse estranho Bucsky, datada de 30 de dezembro. Como fiquei contente, minha irmãzinha, com certas frases suas. Não diga porém: descobri que ainda há certas frases suas. Não diga porém: descobri que ainda há muita coisa viva em mim. Mas não, minha querida ! Você está toda viva! Somente você tem levado uma vida irracional, uma vida que não parece com você. Tania, não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar