Pular para o conteúdo principal

[Cartas Famosas] De F. Scott Fizgerald para Max

Na semana em que a adaptação cinematográfica do clássico "The great Gatsby" (O Grande Gatsby, em português) chega aos cinemas, eu trago para a sessão cartas famosas do mundo literário a correspondência trocada entre F. Scott Fitzgerald e Max, o editor do livro "The great Gatsby".

Quem acompanha o blog e me conhece já sabe que eu sou fã desse escritor americano que soube com a maestria de um escriba retratar a sociedade americana do início do século XX. 
O autor é o mesmo de um dos meus contos favoritos: "O Curioso Caso de Benjamin Button". Mas vamos à carta. Perceba que Fitzgerald não economiza presunção ao seu romance, julgando sê-lo o melhor romance americano já escrito.  Leia para compreender.

------------------------------



Villa Marie,
ValescureSt-Raphaël, França
(c. 27 de agosto de 1924)


Caro Max,

1. O romance estará terminado na semana que vem. Noentanto, isso não significa que ele chegará aos Estados Unidos antes do dia 1o de outubro, porque Zelda e eu pretendemos revê-lo cuidadosamente depois de uma semana de descanso total.

2. Os artigos não chegaram.

3. Selden concorda comigo e acredita que “For the Grimalkins” é um título maravilhoso para o livro de Ring. Também tenho grandes ideias quanto a “MyLife and Love”, sobre as quais falarei a Ring quando ele vier em setembro.

4. Quantos exemplares os contos dele venderam?

5. Seu contador não me mandou o relatório de direitos

autorais de 1o de agosto.

6. Pelo amor de Deus, não dê a ninguém mais a capa que você destinou ao meu livro; eu a integrei ao romance.

7. Acho que meu romance é provavelmente o melhor romance americano já escrito. É brutal em algumas passagens, tem cerca de 50.000 palavras, e espero que você não se inquiete.

8. Tem sido um verão razoável. Ando infeliz, mas meu trabalho não foi afetado. Eu cresci, afinal.

9. Sobre quais livros se tem comentado? Não me refiro a best-sellers. O romance de Hergeshiemer [sic] no Post me pareceu ruim.

10. Espero que você esteja lendo o romance de Gertrude Stiens [sic] no Transatlantic Review.

11. O último livro de Raymond Radiguet (o jovem que aos dezesseis anos escreveu O diabo no corpo, é um grande sucesso aqui. Ele o escreveu aos dezoito. Chama-se O baile do conde de Orgel. Cheguei apenas à metade, mas, se fosse você, pediria uma opinião sobre ele. É mais cosmopolita que francês, e meus instintos me dizem que, bem traduzido, faria grande sucesso nos Estados Unidos, onde todos desejam Paris. Procure-o e ouça ao menos uma opinião sobre ele. O prefácio foi escrito pelo dadaísta Jean Cocteau, mas o livro não é de forma alguma dadaísta.

12. Você conseguiu os outros livros de Ring?

13. Provavelmente iremos embora em 1o de outubro, então, depois do dia 15 de setembro, por favor, envie tudo aos cuidados de
F. Scott Fitzgerald em 4 de junho de 1937, 
foto de Carl van Vechten
Guarantee Trust Co., Paris.

14. Por favor, se tiver tempo, peça para que a livraria me envie A dança da vida, de Havelock Ellis, e coloque

na minha conta.

15. Convidei Struthers Burt para jantar, mas seu bebê estava doente.

16. Responda a todas as perguntas, Max.

Sinto uma falta tremenda de você.

Scott



_______________________________________


Hotel Continental,
St-Raphaël, domingo
(de partida na terça-feira)
(c. 7 de novembro de 1924)

Caro Max,

A esta altura você já deve ter recebido o romance. Há no livro coisas que não me satisfazem – os capítulos 6 e 7.

É possível que eu escreva uma cena totalmente nova na prova. Espero que tenha recebido meu telegrama.

“Trimalquião em West Egg”

Os únicos outros títulos que parecem convir são “Trimalquião” e “No caminho de West Egg”. Eu tinha outros, “Gatsby do chapéu de ouro” e “O amante acrobata”, mas eles me parecem fracos. Iremos para Roma assim que eu terminar o conto que estou escrevendo.

Do sempre amigo,

Scott

P.S.: Fiquei contente por você ter se mudado para New Canaan. É maravilhoso.

Às vezes fico terrivelmente ansioso para voltar para casa.

Mas fiquei confuso com o que você disse sobre Gertrude Stien [sic]. Pensei que fosse um objetivo dos críticos e dos editores educar o público para apreciar uma obra original. Os primeiros que se aventuraram a publicar Conrad certamente não o encaravam como um empreendimento comercial. A evolução de uma obra surpreendente para uma obra aceita terminou vinte anos atrás?

Envie-me o livro de Boyd (Ernest) quando for lançado. Acho os anúncios do Lardner incríveis. O Dark Cloud fracassou?

Você poderia pedir para o pessoal do andar de baixo continuar me mandando a conta mensal da enciclopédia?


------------------------------------------------------


Fonte: Revista Cult / Wikipédia / WarnerBross

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

[Curiosidades] Xingamentos em um português culto

Se é pra xingar, vamos xingar com um português sofisticado. Aqui neste post você vai ler algumas palavras mais cultas e pouco usadas quando se quer proferir uma série de palavrões onde a criatura não entende patavina nenhuma. Antes, porém, de você aprender algumas palavrinhas, conheça esta historieta: Diz a lenda que Rui Barbosa, ao chegar em casa, ouviu um barulho estranho vindo do seu quintal. Chegando lá, constatou haver um ladrão tentando levar seus patos de criação. Aproximou-se vagarosamente do indivíduo e, surpreendendo-o ao tentar pular o muro com seus amados patos, disse-lhe:  - Oh, bucéfalo anácrono!Não o interpelo pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes, mas sim pelo ato vil e sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação, levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa. Se fazes isso por necessidade, transijo; mas se é para zombares da minha elevada prosopopéia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica bem no alto da tua sinagoga, e o

Resistência do amor em tempos sombrios

Terceiro e último livro de uma trilogia que a escritora gaúcha iniciou com A casa das sete mulheres, o volume Travessia encerra a Trilogia Farroupilha com um personagem que, no dizer da autora, é comum a toda a história: Garibaldi, este carismático personagem que aparece no início do primeiro livro, quando principia um amor platônico com a meiga Manuela, a filha do Bento Gonçalves. Mas como já acompanhamos nos volumes anteriores, a família da moça não compactua com o romance, impedindo, pois, o contato de ambos. Se no primeiro livro a escritora se atém a contar a história da família concomitante à Revolução Farroupilha, tendo como cenário a Estância da Barra, a casa na qual ficaram 7 mulheres da família de Bento Gonçalves, no segundo volume já temos como plano histórico a Guerra do Paraguai, além de mudar a perspectiva para o romance de Giuseppe e Anita, a mulher atemporal que provoca uma paixão no general e guerreiro italiano. Ana Maria de Jesus Ribeiro, ou Anita, sempre dava um

De Clarice Lispector para Tania Kaufmann

Conforme eu tinha anunciado ha meses, o blog Papos Literários divulgará com frequência uma série de cartas famosas do mundo da literatura ou da música. Hoje trago na íntegra a carta de uma das escritoras mais queiridinhas dos brasileiros, além de ser famigerada nestes tempos de facebook ee twitter. Confira a f amosa carta de Clarice para a sua irmã Tania Kaufmann. Clarice em sua árdua tarefa de escrever _____________________________________________ A Tania Kaufmann Berna, 6 janeiro 1948 Minha florzinha, Recebi sua carta desse estranho Bucsky, datada de 30 de dezembro. Como fiquei contente, minha irmãzinha, com certas frases suas. Não diga porém: descobri que ainda há certas frases suas. Não diga porém: descobri que ainda há muita coisa viva em mim. Mas não, minha querida ! Você está toda viva! Somente você tem levado uma vida irracional, uma vida que não parece com você. Tania, não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar