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HQ e História juntas para retratarem um dia alvoroçado em Porto Alegre

Quatro estrangeiros realizaram um assalto numa Casa de Câmbio numa das ruas mais movimentadas de Porto Alegre. Na fuga, pelas ruelas do Centro, cometem outros crimes e tumultuam o cotidiano da ainda pacata cidade, gerando disputas entre políticos e jornalistas da Capital. 
Se você lesse este texto de abertura  por aí, juraria ser dos dias atuais.
Mas não é. 
O dia é 5 de setembro e o ano é 1911. 
Cenário? A fria Porto Alegre.
Pronto! Isso é o suficiente para o desenrolar de filme de ação, como de fato o foi adaptado para as telas 10 DIAS após o assalto.

Parece estranho que ha um século ocorria assaltos em Bancos e hoje isso continua ocorrendo com tamanha naturalidade.
O livro Tragédia da Rua da Praia (Editora Libretos, 1ª Edição, 2011, 60 páginas, Ilustrações de Edgar Vasques, R$30,00) traz em formato de HQ (História em Quadrinhos) o que Rafael  Guimarães havia feito em 2005 em forma de livro jornalístico, só que dessa vez em colaboração com Edgar Vasques.

Quando em 1911 os quatro anarquistas assaltaram uma casa de câmbio, eles fugiram a pé, de carruagem, a bordo de um bonde e até mesmo numa carroça de leiteiro.
No decorrer da perseguição é gravado um filme, lançado dez dias depois do ocorrido e considerado um dos primeiros trabalhos cinematográficos do estado gaúcho. 
Bandidos fuzilados, dinheiro recuperado, tudo certo.
Que nada! A cidade teve seu cotidiano alterado. É excêntrico ver que durante o resgate dois empresários, Nicola e Humberto Petrelli decidem fazer um curta metragem de 14 minutos, quando na época mal se conseguia 7. 
O primoroso trabalho do jornalista Rafael Guimarães, que já teve seu livro premiado, recebe esta adaptação para o formato HQ pelo renomado cartunista Edgar Vasques.
Ao transportar qualquer livro para este formato tem que se levar em consideração a rapidez e fluidez dos diálogos e ações, afinal um leitor de História em quadrinhos quer síntese. E isto o cartunista faz bem.
O ilustrador confessou numa entrevista que dispensou o uso do computador para desenhar. Não poderia ele ter feito melhor escolha, pois cada quadrinho traz informações precisas, bem como o cenário da cidade, a expressão exata dos personagens, os diálogos concisos e a contextualização da época.


Muita ação, desenhos que enchem os olhos e vá lá, uma história que, se não fosse trágica, seria cômica. Os traços de Vasques retratam com maestria aquilo que Rafael Guimarães quer deveras contar. Texto e imagens se juntam e formam o livro de apenas 60 páginas que dá pra ler numa sentada só ou até mesmo enquanto se espera numa fila de banco. Banco? Tudo a ver com a história do assalto retratado no livro. Bem, mas isso já é outra história...

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