Pular para o conteúdo principal

[Ponto de Vista] Reality Shows



A 8ª Praga: a dos reality shows...


Estamos no século XXI ou em 68 d.C.? Ao que me parece estamos mesmo retrocedendo no tempo e no espaço. Se na época de Roma a política do pão e circo garantia prazer aos cidadãos por meio de espetáculos no Coliseu, hoje nós (e aqui eu me enquadro também) assistimos aos espetáculos do coliseu moderno. Isso mesmo, COLISEU!. Há humanos que chegam a um ponto extremo: em sentir prazer ao ver o sofrimento do outro por meio da transmissão de reality shows que provam a resistência e o limite de força de cada participante que lutam entre si (e aqui eles fazem tudo para conseguir o prêmio, inclusive ultrapassar o próximo, custe o que custar!).
Gosta-se de ver na tv a vida de seres humanos vista por dezenas de câmeras em diversas partes de uma casa expondo as partes mais íntimas dos corpos anônimos. Gosta-se de ver na tv também a hipocrisia humana e seus limites e ver até onde os participantes chamados de heróis (por um determinado apresentador) podem chegar fazendo atitudes pérfidas, sórdidas, devassas e desumanas. Gosta-se ainda de assistir na tv e até mesmo pagar para ver as brigas que eles próprios travam pela conquista de milhões ou pelo efêmero sucesso. Gosta-se de ver e torcer mais ainda por aqueles que estão lá e que nem sabem de nossa existência. Torce-se para que o fulano consiga ganhar e ultrapassar siclano. Torce-se para que o beltrano ganhe a batalha/desafio por que aquele não merece por ter mentido ou praticado outros atos ilícitos só para entrar na ‘panelinha’ ou no ‘jogo’...
Sente-se prazer e vibra-se ao ver os participantes subirem na sua hipertensão passando por limites de prova com fogo, água e ultrapassando limites e enfrentando fobias. Esse prazer que ora se sente ao ver isto é o mesmo que os romanos sentiam na época dos espetáculos do coliseu onde a vítima era colocada frente ao seu algoz e que raramente, digo raramente saia viva daquele show. Hoje as vítimas saem vivas do show, porém revelam ao mundo o seu lado negro e expõem a natureza humana como algo descartável, execrável, exibidos como se todos fossem iguais e capazes de fazer as mesmas ações imundas que eles. Será?
As vítimas (nem sei se posso mesmo chama-las assim, já que estão ali por que querem e ainda assim são consideradas heróis. Hum?) são submetidas a um cansaço mental e sentimental, onde os seus sentimentos são provados, as alegrias logo são dribladas por algo triste ou vice versa, tramado por uma direção de programa que entende a mente humana que sabe e manipula não só os participantes do show, mas também a nós que estamos no conforto de nossa casa e pensando que estamos assistindo a só mais um programinha de horário nobre. Ledo engano! O coliseu não se encontra mais lá em Roma, mas dentro de nossos lares onde ao invés das arquibancadas de pedra sentamos no sofá, sorrimos, choramos vendo a vítima do coliseu ser atacada pelos leões... É este sentimento romano e não humano que sentimos na pele e ao que me parece dá prazer a muita gente...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

[Curiosidades] Xingamentos em um português culto

Se é pra xingar, vamos xingar com um português sofisticado. Aqui neste post você vai ler algumas palavras mais cultas e pouco usadas quando se quer proferir uma série de palavrões onde a criatura não entende patavina nenhuma. Antes, porém, de você aprender algumas palavrinhas, conheça esta historieta: Diz a lenda que Rui Barbosa, ao chegar em casa, ouviu um barulho estranho vindo do seu quintal. Chegando lá, constatou haver um ladrão tentando levar seus patos de criação. Aproximou-se vagarosamente do indivíduo e, surpreendendo-o ao tentar pular o muro com seus amados patos, disse-lhe:  - Oh, bucéfalo anácrono!Não o interpelo pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes, mas sim pelo ato vil e sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação, levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa. Se fazes isso por necessidade, transijo; mas se é para zombares da minha elevada prosopopéia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica bem no alto da tua sinagoga, e o

Resistência do amor em tempos sombrios

Terceiro e último livro de uma trilogia que a escritora gaúcha iniciou com A casa das sete mulheres, o volume Travessia encerra a Trilogia Farroupilha com um personagem que, no dizer da autora, é comum a toda a história: Garibaldi, este carismático personagem que aparece no início do primeiro livro, quando principia um amor platônico com a meiga Manuela, a filha do Bento Gonçalves. Mas como já acompanhamos nos volumes anteriores, a família da moça não compactua com o romance, impedindo, pois, o contato de ambos. Se no primeiro livro a escritora se atém a contar a história da família concomitante à Revolução Farroupilha, tendo como cenário a Estância da Barra, a casa na qual ficaram 7 mulheres da família de Bento Gonçalves, no segundo volume já temos como plano histórico a Guerra do Paraguai, além de mudar a perspectiva para o romance de Giuseppe e Anita, a mulher atemporal que provoca uma paixão no general e guerreiro italiano. Ana Maria de Jesus Ribeiro, ou Anita, sempre dava um

De Clarice Lispector para Tania Kaufmann

Conforme eu tinha anunciado ha meses, o blog Papos Literários divulgará com frequência uma série de cartas famosas do mundo da literatura ou da música. Hoje trago na íntegra a carta de uma das escritoras mais queiridinhas dos brasileiros, além de ser famigerada nestes tempos de facebook ee twitter. Confira a f amosa carta de Clarice para a sua irmã Tania Kaufmann. Clarice em sua árdua tarefa de escrever _____________________________________________ A Tania Kaufmann Berna, 6 janeiro 1948 Minha florzinha, Recebi sua carta desse estranho Bucsky, datada de 30 de dezembro. Como fiquei contente, minha irmãzinha, com certas frases suas. Não diga porém: descobri que ainda há certas frases suas. Não diga porém: descobri que ainda há muita coisa viva em mim. Mas não, minha querida ! Você está toda viva! Somente você tem levado uma vida irracional, uma vida que não parece com você. Tania, não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar