O título do livro não era este. Era Ardente Paciência. Mas o filme baseado no livro ganhou tanta fama (foi indicado ao Oscar em 1996 e ganhou como trilha sonora) que o próprio autor se viu motivado a alterar o nome do livro pelo título homônimo do filme: O carteiro e o poeta. O que é comum ao autor, pois com Um pai de cinema aconteceu o mesmo. Com a força do filme de Selton Mello (O filme da minha vida), o escritor chileno Antonio Skármeta parece mesmo estar sempre influenciado pelo poder do cinema.
Este livro de Skármeta conta a
relação amigável entre o carteiro Mario Jiménez e o poeta Pablo Neruda. A
história é curiosa: Mario tem pouca instrução e está desempregado. Sabendo do
surgimento de uma vaga de carteiro nos Correios, resolve se candidatar, pois
ele não suporta mais a ideia de ser apenas um pescador como o seu pai ou outros
homens comuns da comunidade. Além disso, como Mario tem alergia a peixe, ele
queria fugir dessa rotina. Isso é perceptível com o gosto pelo cinema, o qual
vai com muita frequência, além de gostar de passear de bicicleta pela ilha.
Ao ser contratado para entregar
cartas ao único destinatário que recebe as correspondências, Mario vê a
possibilidade de se aproximar do poeta que, devido a sua literatura,
encontra-se exilado na ilha por razões políticas. Com esse contato, o carteiro
se aproxima cada vez mais do poeta, comprando livros para ser autografados por
ele, pedindo ajuda na interpretação de poemas e até explicações sobre como
construir uma metáfora.

Neruda, que terminado o exílio, vai
embora da ilha, deixa em Mario uma enorme influência intelectual. Já casado com
Beatrice, Mario sabe que a poesia, a literatura é capaz de transformar o ser
humano. Não é mais suficiente ficar calado diante das ações do governo. Não é
mais capaz de ficar em silêncio diante do barulho da literatura.
Poemas como este a seguir ajudam a mostrar a
força poética e lirismo que o livro possui no decorrer da narrativa.
Desnuda és tão
simples como um de tuas mãos,
lisa,
terrestre, mínima, redonda, transparente,
tens linhas de
lua, caminhos de maçãs,
desnuda és
delgada como o trigo desnudo.
Desnuda és
azul como a noite em Cuba,
Tens trepadeiras
e estrelas nos cabelos.
Desnuda és
enorme e amarela como o verão
Numa igreja de
ouropel.
O livro, que
tem apenas 174 páginas, conta
com um pano de fundo histórico cheio de referências à ditadura de Pinochet: do
exílio do poeta ao fim da amizade dos dois. Escrito com humor e uma linguagem
bastante objetiva, o livro de Skármeta é uma bela homenagem ao poeta chileno.
Se no começo do livro, Mario era um homem atabalhoado, no fim, ele já é um
homem maduro. Se no início ele era incapaz de perceber a sensibilidade de uma
metáfora, no fim ele já se entrega ao poderio da literatura.
SOBRE
O AUTOR:
Antonio Skármeta nasceu
em Antofagasta, no Chile. Estudou filosofia e literatura em seu país e em Nova
York. Viveu muito tempo na Europa e nos Estados Unidos, onde trabalhou como
roteirista, professor e diretor de cinema. Seus livros de contos e romances
foram publicados em mais de 25 línguas, com destaque para O carteiro e o poeta,
levado às telas dos cinemas e recebendo cinco indicações para o Oscar. Skármeta
foi embaixador do Chile na Alemanha de 2000 a 2003 e hoje reside em seu país,
dedicando-se exclusivamente à literatura. Foi embaixador do Chile na
Alemanha de 2000 a 2003 e hoje vive em seu país, dedicando-se apenas à
literatura.
FONTES:
O filme pode ser assistido aqui no YouTube. (Filme Completo).
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