Terceiro
e último livro de uma trilogia que a escritora gaúcha iniciou com A casa das sete
mulheres, o volume Travessia encerra a Trilogia Farroupilha com um personagem
que, no dizer da autora, é comum a toda a história: Garibaldi, este carismático
personagem que aparece no início do primeiro livro, quando principia um amor
platônico com a meiga Manuela, a filha do Bento Gonçalves. Mas como já
acompanhamos nos volumes anteriores, a família da moça não compactua com o
romance, impedindo, pois, o contato de ambos.
Se
no primeiro livro a escritora se atém a contar a história da família
concomitante à Revolução Farroupilha, tendo como cenário a Estância da Barra, a
casa na qual ficaram 7 mulheres da família de Bento Gonçalves, no segundo
volume já temos como plano histórico a Guerra do Paraguai, além de mudar a
perspectiva para o romance de Giuseppe e Anita, a mulher atemporal que provoca
uma paixão no general e guerreiro italiano. Ana Maria de Jesus Ribeiro, ou
Anita, sempre dava um jeito de acompanhar Garibaldi em suas empreitadas
bélicas, mesmo diante dos perigos dessa vida.
O
volume levou mais de 10 anos para ser concluído e motivou a autora a fazer uma
pesquisa ampla sobre o período histórico a ser descrito. Em cada livro, podemos
perceber que as histórias se passam em meio a uma batalha: Revolução
Farroupilha, Guerra do Paraguai e as que foram vividas por Garibaldi e Anita.
Assim, foram quase 16 anos de trabalho da escritora gaúcha, convivendo com os
personagens criados e com as intensas lutas históricas do período da narrativa.

Se
nos volumes anteriores a história era narrada por mulheres, neste terceiro
volume uma das perspectivas narrativas é feita pelo próprio Giuseppe. Aqui, por
exemplo, saberemos mais detalhes de sua história com a corajosa Anita, que pregava
uma igualdade de gênero em tempos tão sombrios, lutou num tempo em que o espaço
era predominantemente masculino e viril, uma mulher que em meados do século XIX
já era um exemplo de empoderamento feminino, requerendo a sua posição enquanto
mulher.
A
precursora Anita já havia largado um casamento no qual se vira obrigada pela
família a seguir, pois diante da fome existente, o casamento aos 14 anos acabou
sendo uma saída. Vulnerável e corajosa, mas também conhecida por sua bravura, Anita
iria ser determinante para alguns sucessos e insucessos da vida do homem por
quem ela se apaixonara, afinal, seu fim se dará numa fuga ao lado do marido.
Foi nas primeiras batalhas que o casal se conheceu, em Montevidéu, no Uruguai,
quando Garibaldi lutou no Cerco de Rosas. A partir de então, nasce entre os
dois um amor que irá dar forças a ambos seguirem na luta.
Encanta,
pois, a maneira como o casal se conheceu. A Revolução Farroupilha já estava em
seu quarto ano, em 1939. Já que o romance com Manuela não havia evoluído,
Garibaldi dedicou-se à construção de barcos que serviriam para a travessia dos
Farroupilhas rumo à conquista da República Juliana. Em um desses barcos ele vê
Ana Maria de Jesus Ribeiro, a bela Anita, que na casa de seu tio esperava
notícias do seu marido, partícipe da Guerra, mas ao lado dos imperialistas.
Como ela não sabia notícias dele (se vivo ou morto), já que ele havia fugido
junto com os demais soldados imperiais, ao ver o já conhecido herói Garibaldi a
sua frente, Anita ficou deslumbrada, entregou seu coração, deixou a casa com o
tio e resolveu acompanhar aquele que seria o verdadeiro homem de sua vida até
sua morte, aos 27 anos.
Dividido
entre fatos acontecidos (aqueles narrados) com os personagens e ao que é
narrado no presente, ou seja, em fevereiro de 1850, período no qual Giuseppe
Garibaldi já se encontra no exílio, em Tânger (cidade nortista de Marrocos).
Mas a narrativa também contém a perspectiva de Anita, que um pouco diferente da
visão de Garibaldi, dá à narrativa menos cansaço e mais emotividade. Sua voz
narrativa se faz presente até depois de sua morte.

Nesta
nova narrativa da saga, somos informados, por exemplo, de que os anos mais
felizes do casal foi o período em que estiveram em Laguna, tempo em que ela o
acompanhou nas obrigações militares. Desta época, passando pela gravidez de
Anita, as traições, bombardeios da Guerra do Paraguai, as lutas nas quais ela
mesmo grávida participou, o exílio de Garibaldi e a morte de Anita ao tentar
acompanhar Garibaldi, o livro não ameniza o drama, mas também não o torna
enternecido exageradamente.
De
forma geral, Travessia não é o melhor livro da trilogia, mas certamente fecha-a
muito bem, com uma história comovente e surpreendente. Semelhante aos demais, tem
guerras, romance, melancolia, morte, mas sobretudo vida e sentimento. A
impressão que dá é que esta tenha sido a receita repetida nos três, mas neste
as tintas foram mais fortes.
Com
o novo design de capa, as novas edições dos três livros embelezam qualquer
estante. Como já foi dito, a convite da própria escritora, o artista plástico
Chico Baldini criou gravuras para a capa que definitivamente a tornaram mais
vivas diante de tanta morte na narrativa.
CURIOSIDADES E OUTROS LINKS:
- · Anita foi homenageada tanto no Brasil quanto na Itália. Seu nome está inscrito no Livro dos Heróis da Pátria, depositado no Panteão da Liberdade e da Democracia, em Brasília.
- · Aqui no blog da Editora Record tem uma entrevista com a autora.
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