Pular para o conteúdo principal

[Meus Versos] Simulacro

Epílogo

Meus ossos sentem o frio
da noite aqui no sítio
que fica à beira rio
.......................................


O astro circular que não roda
projeta no espelho fluvial
a imagem do que fui, que sou 
e do que desejo ser.
É fácil ver a vida ali do lado
difícil é descamar a pele do peixe
difícil é separar ela
do que não é real.


"Como algo real por dentro
Como coisa real por fora".


Porque ver o outro lado
é como viver outra dimensão
onde o ser e o medo
constroem um constante estado de agonia.


Agora as gotas de chuva.
Elas caem sobre a ponte.

Agora a ponte.
A ponte me liga ao outro lado

à outra geração da sociedade.


Agora a água da chuva.
A água mistura-se ao córrego.
E é gigantesca a escuridão...


E os dois lados se fundem
e se mesclam...
e estampam em minha mente
as imagens selvagens 
que o luar transformou
em memórias idas.
Mas o passado é retorno
e o retorno traz paulatinamente
os dois polos extremos  em que vivi:
santidade e obscuridade.


Agora o sono.
Agora o sonho...
`

Para meu ser molestado
o bandido pretérito retorna
e a luta é travada em meu interior.
O velho rio continua
a celebrar absurdos
no gratuito espetáculo
do meu coliseu.


Meus pensamentos dispersos
embora não convençam o rio
a estagnar a passagem,
maximiza a velocidade
e assim a visualização corre
impedindo precisões da imagem.


Passeio rapidamente pelo meu nascimento
pelas puerilidades, paixões, aventuras, revoluções,
o crescimento imaturo e as sanções
que moldaram meu desenvolvimento.


Agora os meus ossos...
Agora o ossos...



Meus ossos já não sentem o frio.
As pinturas costuradas afugentaram
as sensações corporais
dando vazão às tempestades psíquicas.
extravasando a sétima jarra de vidro

e abrindo o ser em dois
tal qual o mar Vermelho.
Que horror! Que horror!
Mas eu nem posso caminhar a pé enxuto!
E a travessia vai complicando a paz.



Finda chuva.
O mundo modifica

a natureza se reveste de quietude
e as ervas conservam seu perfil ancestral.


Com a primazia do sol
meu lado primitivo vem à tona.
O dia me torna iconoclasta
e com sede vampiresca
assassinos os que tem assas - pássaros
e devoro-os ainda vivos.
Dentro, meu organismo soa uivos, pios e assobios.
A loucura escreve o meu próximo ato: o rio.
Um mergulho até o mais profundo grau.


Agora o rio.
Agora o mergulho...


Trago pedras nos bolsos

toldo minha visão.
O rio, que outrora, era fusão,

agora é purgação.

Vícios! Vícios Mundanos me movem

até as montanhas.
Vejo o rio a centímetros de mim.
E eu pulo... E eu pulo...

eu mergulho,
eu mergulho.
É o meu momento.
É o meu mergulho
o mergulho...


....................................................


Prólogo


Do alto da montanha
eu assisto ao meu mergulho
e assisto os que precisam mergulhar.


Minha pele arde de calor
Debruço-me sob o sol.
Levanto-me e deixo tudo para trás:
sem mergulho, sem chuva, sem rio...


Comentários

  1. THIAO!
    PARABÉNS, É LINDO!

    FELIZ DIA DO AMIGO!!

    "AMIGO, palavra tão fácil de se escrever e pronunciar, mas tão difícil de ter. AMIGO, é aquele que nos ampara nos momentos difíceis, é aquele que nos crítica nos erros e fraquezas, é aquele que não engana, que não elogia para não explorar. AMIGO, é aquele que sente a nossa ausência e chora quando choramos."

    Vim desejar alegria, felicidade e muito amor no coração e um final de semana iluminado, cheio de carinho e felicidade!!
    “Crer, é tornar possível o impossível.”
    Carinho não tem preço, doe-se.
    Blogueiras Unidas 1275!
    Luz e paz!
    Cheirinhos
    Rudy
    http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com/

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Oi. Grato pela visita. Sinta-se convidado a voltar sempre. Abraços.

Postagens mais visitadas deste blog

[Curiosidades] Xingamentos em um português culto

Se é pra xingar, vamos xingar com um português sofisticado. Aqui neste post você vai ler algumas palavras mais cultas e pouco usadas quando se quer proferir uma série de palavrões onde a criatura não entende patavina nenhuma. Antes, porém, de você aprender algumas palavrinhas, conheça esta historieta: Diz a lenda que Rui Barbosa, ao chegar em casa, ouviu um barulho estranho vindo do seu quintal. Chegando lá, constatou haver um ladrão tentando levar seus patos de criação. Aproximou-se vagarosamente do indivíduo e, surpreendendo-o ao tentar pular o muro com seus amados patos, disse-lhe:  - Oh, bucéfalo anácrono!Não o interpelo pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes, mas sim pelo ato vil e sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação, levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa. Se fazes isso por necessidade, transijo; mas se é para zombares da minha elevada prosopopéia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica bem no alto da tua sinagoga,...

Como fazer um livro artesanal em casa

Se você já teve aquela ideia de transformar um caderno de receitas em livro, ou ainda um diário, um bloco de anotações, siga estas instruções e veja como dar uma capa hardcover totalmente customizada a seu gosto. Abaixo, o tutorial passo a passo de como fazer uma maravilhoso livro artesanal. Método 1 de 2: Encadernação com Cola e Tecido 1  Escolha um material para a capa e corte duas peças idênticas. Para o seu primeiro livro, a cartolina é bem fácil de trabalhar. Uma vez que você já tenha pegado o jeito, poderá avançar para a madeira ou um tabuleiro. A capa precisa ser 6 cm mais larga e 1.25 cm mais longa que as páginas internas. Se você está usando papel de impressão, ele deve ter 22.25 x 29.25 cm. 2 Dobre seis folhas de papel pela metade. Depois, costure-as juntas no vinco, em um padrão de algarismo 8. Certifique-se de começar e terminar no mesmo ponto, e que o nó fique para dentro. Isto irá criar uma lombada de livro. 1/4" (.6 cm) é uma largura adequada. 3 Empilhe al...

Resistência do amor em tempos sombrios

Terceiro e último livro de uma trilogia que a escritora gaúcha iniciou com A casa das sete mulheres, o volume Travessia encerra a Trilogia Farroupilha com um personagem que, no dizer da autora, é comum a toda a história: Garibaldi, este carismático personagem que aparece no início do primeiro livro, quando principia um amor platônico com a meiga Manuela, a filha do Bento Gonçalves. Mas como já acompanhamos nos volumes anteriores, a família da moça não compactua com o romance, impedindo, pois, o contato de ambos. Se no primeiro livro a escritora se atém a contar a história da família concomitante à Revolução Farroupilha, tendo como cenário a Estância da Barra, a casa na qual ficaram 7 mulheres da família de Bento Gonçalves, no segundo volume já temos como plano histórico a Guerra do Paraguai, além de mudar a perspectiva para o romance de Giuseppe e Anita, a mulher atemporal que provoca uma paixão no general e guerreiro italiano. Ana Maria de Jesus Ribeiro, ou Anita, sempre dava um ...