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A Senhora de Wildefell Hall

















Em A Senhora de Wildfell Hall (Editora Record, 503 páginas), Anne Brontë nos presenteia com um excelente romance que conta a historia de Helen Graham. A narrativa, considerada polêmica, denuncia os padrões de comportamento erráticos assumidos por homens e mulheres dentro da instituição do casamento.

A heroína da historia – Helen – é uma viúva que se muda com o filho Artur para a mansão abandonada de Wildfell Hall. Lá ela acaba por se tornar alvo de fofocas e especulações sobre seu caráter, principalmente na esfera amorosa. É através de uma carta que ela acaba por contar todas as desventuras que passou para chegar ao seu atual destino.

Trata-se da clássica história do casamento ruim e da esposa que decide fugir do passado e do marido. Parece clichê, mas não é. O livro foi escrito no século XIX e é com pesar que vemos as questões abordadas nele serem ainda tão atuais.

O livro mostra a trama de uma relação abusiva desde o início, do noivado ao rompimento e é certeiro ao revelar como a mulher presa a esse tipo de relação sente-se e pensa. Helen assume o papel de mãe do marido e em diversas vezes crê ser responsável pela conduta dele. Seu marido faz questão de manipular a situação a seu favor, de modo a reforçar o sentimento de culpa de Helen.

Quando Helen opta por se casar, sua decisão é tomada com base na ingenuidade de que com esforço e amor conseguirá modificar o comportamento de seu futuro marido, ensinando-lhe o caminho da retidão. Acredita até ser esse o dever cristão de uma esposa.

Entretanto, as coisas não saem como ela imaginava e a experiência acaba dando à personagem nova visão sobre os papéis dos homens e mulheres, sobre a criação dos filhos( em especial a dos meninos) e sobre a necessidade de independência da mulher dentro do casamento. São idéias que rendem debates excelentes entre as personagens. Tudo isso faz de Helen uma mulher forte, à frente de seu tempo e mal compreendida pela maioria.

Anne Brontë foi muito feliz na escolha dos temas e conseguiu construir seu romance com responsabilidade e maestria. A Senhora de Wildfell Hall traz personagens ricos e carismáticos. Leitura mais que necessária!

Sobre a autora: Filha mais nova da família Brontë, era irmã de Emily Brontë, autora de O Morro dos Ventos Uivantes, e de Charlotte Brontë, autora de Jane Eyre – livros clássicos e reeditados até hoje. Desde jovem, Anne tinha por hábito escrever e ao lançar seus livros escolheu o pseudônimo masculino Acton Bell. Entretanto, seu romance mais importante foi considerado obscuro até mesmo por suas irmãs, uma vez que propunha temas considerados tabus na época. Acometida pela tuberculose, a autora teve uma vida breve, o que não a impediu de nos deixar uma obra excepcional e muito além de seu tempo, considerada o verdadeiro marco da literatura inglesa. Antes de falecer, suas últimas palavras, direcionadas à irmã, foram: “Coragem, Charlotte.”



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