Pular para o conteúdo principal

Registro 0002 - Uma vida para livros e por livros!

Bem, como foi prometido no Registro 0001, a partir de então, iremos postar aqui histórias de leitores e até de escritores brasileiros que quiserem compartilhar uma aventura, uma narrativa ou algo do tipo. A primeira leitora que vem dar seu depoimento a público é Marielle, leitora assídua e voraz.
Confira.
________________________________________

Soprinho foi um livro surrupiado da biblioteca da faculdade da minha mãe por minha mãos magrelas e juvenis. Eu tinha uma fome que despontava aquiescente por livros quando já era pequena, e por isso não tenho vergonha de confessar meu crime já na primeira linha do enredo. Foi como roubar um coração, ou um beijo. Agora aquele livro maravilhoso me pertencia, e eu a ele. Podia ler e reler várias vezes. Mesmo sendo um livro infantil, poderia devorá-lo hoje, novamente. Como uma sobremesa maravilhosa, daquelas que a gente não esquece nunca o gosto e nem o cheiro de baunilha fresca.

Aprendi ler aos 3, 4 anos de idade. Minha mãe nem sabia que já estava me dando o melhor presente do mundo – saber ler. Na escola, vivia pegando os livros de Língua Portuguesa, Gramática e Literatura pra ler aqueles textos que servem de base pra entrar num capítulo novo... E quando a professora pedia pra ler em voz alta, meu timbre esganiçado saía a toda, tipo 100.000 km por hora. Eu já sabia todos os textos de cor e salteado. E a turma ficava meio zonza tentando me acompanhar na leitura, o que fazia com que a “tia” não me deixasse ultrapassar dois parágrafos. Para a minha tristeza.

Aos sete anos de idade mais ou menos, decidi que queria ser escritora. Não que isso realmente tenha acontecido, mas eu escrevi um monte de histórias e ainda as ilustrava. Pegava as folhas de papel que haviam sido preenchidas com palavrinhas (letras cheias de garrancho) e as grampeava, como que num formato de livro. Vivia chamando minha mãe pra me levar numa editora. Infelizmente não veio a calhar, minha mãe nunca me levou. Mas o que importa é que as palavras deram esperança a uma Marielle pirralha, com muitas ideias desvairadas e criativas.


Alguns livros da Dona deste Registro
O amor pela leitura me acompanhou pela adolescência também. Na época, eu era o que hoje as pessoas chamam de “geek”. Meus amigos, que não eram muitos, estavam lá fazendo qualquer coisa para se distrair num intervalo da escola, e eu na fila da biblioteca. Quase toda vez lia um livro por dia. As pessoas não acreditavam... Mas a verdade é que eu acabei lendo tanto, que realmente lia muito rápido.

Foi numa ida sem propósito a um sebo que me apaixonei perdidamente por Anne Frank e assuntos do gênero. Não sei dizer quantos livros sobre o holocausto eu já li. Todos nós temos alguma coisa para nos perturbar a essência da alma ou aguçar a curiosidade. Desde então, assuntos meio que políticos as vezes me capturam. George Orwell então obteve seu espaço. Depois de velha comecei a gostar mais e mais de romances. Todos nós temos nossas fases, e todas as fases podem ser acompanhadas por estilos diferentes.
Essa sou eu, cresci bem a esse modo brega de ser maluca por livros e livrarias. De ir no Shopping Center e se preocupar com novidades das obras de literatura e não com maquiagens, como muita gente da minha idade faz. Uma certa birutice. Uma certa vida sem par. Uma leitora meiga e sozinha. Uma leitora que faz do livro seu ar.

_________________________________________

Sem dúvida um relato emocionante, singelo e simples.
Valeu Maryelle!

No próximo Registro deste Projeto, teremos o relato de um escritor brasileiro que escreveu ao blog. Aguarde!
Leitor, envie também o seu depoimento para o Papos Literários. Com certeza você tem uma história pra contar! 

:)

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

[Curiosidades] Xingamentos em um português culto

Se é pra xingar, vamos xingar com um português sofisticado. Aqui neste post você vai ler algumas palavras mais cultas e pouco usadas quando se quer proferir uma série de palavrões onde a criatura não entende patavina nenhuma. Antes, porém, de você aprender algumas palavrinhas, conheça esta historieta: Diz a lenda que Rui Barbosa, ao chegar em casa, ouviu um barulho estranho vindo do seu quintal. Chegando lá, constatou haver um ladrão tentando levar seus patos de criação. Aproximou-se vagarosamente do indivíduo e, surpreendendo-o ao tentar pular o muro com seus amados patos, disse-lhe:  - Oh, bucéfalo anácrono!Não o interpelo pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes, mas sim pelo ato vil e sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação, levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa. Se fazes isso por necessidade, transijo; mas se é para zombares da minha elevada prosopopéia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica bem no alto da tua sinagoga,...

Resistência do amor em tempos sombrios

Terceiro e último livro de uma trilogia que a escritora gaúcha iniciou com A casa das sete mulheres, o volume Travessia encerra a Trilogia Farroupilha com um personagem que, no dizer da autora, é comum a toda a história: Garibaldi, este carismático personagem que aparece no início do primeiro livro, quando principia um amor platônico com a meiga Manuela, a filha do Bento Gonçalves. Mas como já acompanhamos nos volumes anteriores, a família da moça não compactua com o romance, impedindo, pois, o contato de ambos. Se no primeiro livro a escritora se atém a contar a história da família concomitante à Revolução Farroupilha, tendo como cenário a Estância da Barra, a casa na qual ficaram 7 mulheres da família de Bento Gonçalves, no segundo volume já temos como plano histórico a Guerra do Paraguai, além de mudar a perspectiva para o romance de Giuseppe e Anita, a mulher atemporal que provoca uma paixão no general e guerreiro italiano. Ana Maria de Jesus Ribeiro, ou Anita, sempre dava um ...

Toda a poesia de Augusto dos Anjos

Cientificismo e musicalidade fazem de Augusto dos Anjos um poeta único na literatura brasileira Da dificuldade de resenhar um livro de poesia gigantesco como este, dividiremos este post em alguns tópicos. Augusto dos Anjos é um nome tão controverso na literatura brasileira que, dentre os questionamentos, um leitor comum, ao perceber um estranhamento em sua poesia pode se interrogar "A qual escola literária este autor pertence, afinal? Ao Parnasianismo, com seu preciosismo, busca da arte pela arte e ricas rimas? Ou ao Simbolismo, com sua musicalidade e transcendentalismo?"  Carlos Heitor Cony assim se refere a esta dúvida: "Os entendidos até hoje não chegaram a uma conclusão a respeito dele. Alguns o consideram pré-modernista, pela audácia dos temas abordados; outros o situam numa categoria mais ou menos abstrata, como neoparnasiano." Otto Maria Carpeaux, em sua monumental História da Literatura Ocidental , define Augusto dos Anjos como o p...